Foto: arquivo ICAL
Luzia
João ficou decepcionado. Era demais para ele aceitar o ocorrido. Luzia desatou a chorar. Ele não se condoeu. Casar com uma moça que não era mais virgem, não aceitava em hipótese nenhuma. Depois de algum tempo disse:
João ficou decepcionado. Era demais para ele aceitar o ocorrido. Luzia desatou a chorar. Ele não se condoeu. Casar com uma moça que não era mais virgem, não aceitava em hipótese nenhuma. Depois de algum tempo disse:
- Casá não. A gente pode morar junto. Depois nós casa.
Luzia muito triste constatou que não tinha outra saída. Dois
meses depois estavam morando juntos, num barraco na Praia do Pinto. Luzia tinha
um sentimento de culpa muito grande. Pensava nos seus, principalmente em sua
mãe. Passou a trabalhar como diarista. Toda a noite ia para casa. Esperava João
sempre com muito carinho, uma comidinha caprichada. Tinha esperança de um dia
vir a casar-se com ele. Nunca mais tinha tido notícias de sua terra. Chorava
sem que João percebesse. Tinha medo que ele se aborrecesse. Há muito não tinha
notícias de Alice, sua amiga, com quem viera de Maceió. Apesar dos pesares eram
felizes. Quando construíram a Cruzada São Sebastião, eles conseguiram uma
kitchinete. Luzia vibrou. Arrumou-a com muito carinho. Tinha esperança de que
nesta ocasião saísse o casamento. Ela chegou a falar com João que lhe deu
alguma esperança. Chegou até ir à igreja para falar com o padre. Ficou de
voltar outro dia com João e os documentos. Mas este dia não chegou. João
trabalhava numa construtora. Ganhava um salário que dava para viver. Um dia,
houve um acidente na construtora. Despencou um andaime com João em cima. Ele e
os companheiros feridos foram para o Hospital Miguel Couto. Mas João, por ser o
mais atingido, fraturou o crânio. Precisou operar. Morreu na mesa de operação.
Luzia foi avisada. Veio com uma vizinha. Quando chegou, ele estava sendo
operado. Muito nervosa, esperava o resultado da operação. Quando o médico
chegou ao corredor, ela muito aflita olhou para ele. Não perguntou nada. Não
foi preciso. Ele logo lhe foi dizendo:
- Infelizmente, minha senhora, aconteceu o pior.
- Como, o que o doutor quer dizer?
- Ele morreu minha filha. Foi melhor assim. Ia ficar sem
condições para viver.
Luzia caiu ali mesmo sem sentidos. Foi atendida pelo próprio
médico. Luzia, amparada pelas amigas, acompanhou o corpo de João, depois de
liberado, para o cemitério São João Batista, onde foi enterrado. A construtora
pagou o enterro e deu uma indenização para Luzia, que, logo depois caiu numa
depressão muito forte. As vizinhas fizeram de tudo para ela superar a crise.
Não adiantou nada. Nem banho tomava. Levaram-na ao médico. Este não teve
alternativa. Luzia foi internada. Naquela época, o tratamento era o eletro choque.
Saiu rápido daquele estado. Depois de algum tempo, voltou para casa. Muito
eufórica. As vizinhas ficaram admiradas de seu comportamento estranho. Era uma
alegria forçada. Tinha aprendido com as companheiras do Hospital as músicas de
carnaval. Amanhecia cantando muito alto. Resolveu tomar parte ativa no
carnaval, entrando para um bloco da Cruzada. “Pintou e bordou”. Bebeu, sambou e
namorou. Aquele não era o seu comportamento. Acabou o carnaval, acabou a
euforia. Luzia caiu novamente em depressão. Tinha vergonha do que tinha
feito... Dos porres que tinha tomado com os vizinhos. Os companheiros do
carnaval procuravam-na, mas não eram recebidos. Não entendia nada. As vizinhas
chamaram-na para levá-la ao médico. Não quis ir. Passados alguns dias, teve um
acesso de loucura. Gritava e jogava os objetos pela janela. Foi levada à força
ao hospital. Desta vez demorou mais. Luzia nunca mais teve saúde. Fazia pena
vê-la em seu delírio. Ria sozinha. Chamava por João, outras vezes xingava o
Armando. Contava sua estória e chorava muito. Pedia aos vizinhos para irem com
ela comprar a passagem de volta para Alagoas. No dia seguinte, já não se
lembrava daquilo que havia combinado. O tempo foi passando. A indenização
acabando. Josefa, sua vizinha levou o caso ao conhecimento das assistentes
sociais. Tentaram levá-la de volta para sua terra. Mas não conseguiram.
Passaram a dar uma ajuda a Luzia. Com o tempo, esta ajuda também desapareceu. O
vigário pagava a luz, pois já havia sido cortada diversas vezes.
Luzia, antes de vir morar no Rio, morava no interior de
Alagoas. Levava uma vida muito dura. Por ser a mais velha, a carga era maior.
Além de ajudar a mãe nos trabalhos caseiros, trabalhava também no campo. Não
gostava daquela vida. Como vivia com os ouvidos colados em seu radinho de
pilha, estava sempre em dia com o que se passava no Rio. Era também muito bem
informada pelas moças que trabalhavam lá. Vivia sonhando com a Cidade
Maravilhosa. Um dia disse em casa: - Quando ficar moça vou trabalhar no Rio.
- Que maluquice é esta menina, fia minha não sai das minhas
vistas. Só quando casá. Aí, sim, passa para o domínio do marido.
Luzia cresceu com esta ideia na cabeça. Com muita
dificuldade aprendeu a ler. Distinguiu-se de suas companheiras. Era uma moça
ambiciosa. Almejava uma vida diferente daquela que levava sua mãe. Não namorava
os rapazes da roça. Procurava namorar os da vila. Não conseguia prendê-los.
Via-os apenas aos domingos na hora da missa. Sempre era passada para trás por
outra que morava na cidade. Insistia, porém, em seus objetivos. Dizia:
- Só me caso com um homem da cidade, ou então, vou para o
Rio.
Sua mãe ansiosa, pois via o tempo passar e Luzia não se
decidir, dizia: Você escolhe, escolhe, termina ficando no barricão.
Luzia pouco ligava para o que a sua mãe pensava. Sabia que
era bonita. Ouvia muitos galanteios da rapaziada. O seu companheiro
inseparável, o rádio a estimulava a uma vida diferente. – Vou morar no Rio. Vou
falar com o vigário para me ajudar. Um domingo, depois da missa falou com o
padre. Pediu que ele falasse com o seu pai.
- Pois não, minha filha. Na próxima semana vou lá e falo com
ele. Minha irmã escreveu-me, pedindo que arranjasse uma moça de confiança para
fazer-lhe companhia. Luzia voltou para casa muito contente. Mas, infelizmente,
sua alegria durou pouco...
(aguarde a parte final...)
(O CORAÇÃO NÃO ENVELHECE)
Marília Benício dos Santos
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Clique no link abaixo e leia a parte I...
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